"Humaniza aqui,
Humaniza lá,
Humaniza em todo lugar..."
Notoriamente, o desenvolvimento científico-tecnológico
tem levado muitas organizações a buscar, de forma desenfreada, o lucro
econômico-financeiro. Isso caracteriza muito bem o pensamento capitalista e subtrai do ser humano,
consequentemente, a valorização real do homem representado pelos
indivíduos que nelas trabalham.
Percebe-se que a cultura predominante da modernidade caracteriza-se
por considerar as pessoas meros recursos que devem contribuir para o alcance
dos objetivos organizacionais. A necessidade de um relacionamento interpessoal
saudável, não encontra lugar no âmbito organizacional, gerando os mais diversos
conflitos e, portanto, “desumanizando” as organizações, desvirtuando os valores
humanos e da ética também são exemplos de realidades desumanizadoras.
E, numa tentativa de caminhar em posição inversa à
desumanização, a Política Nacional de Humanização, vem preconizando como algo sumariamente importante a inter e a transdisciplinaridade na construção de redes cooperativas, solidárias e comprometidas com a produção de tudo o que tenha a ver com a saúde e o bem estar dos indivíduos, e consequentemente, estimulando o protagonismo, chamando todos a assumirem a corresponsabilidade enquanto sujeitos sociáveis e em sociedade, de modo que seja possível tornar todos e quaisquer espaços de atuação humana (no trabalho, na saúde, na educação, na política, etc.).
Isto é, proporcionar que os espaços de convívio diário em quaisquer campos de atuação tornem-se realmente mais humanizados, lembrando o que afirma a professora Luci Bank-Leite
(Unicamp) - “O homem não nasce humano. Ele possui, sim, a capacidade de
tornar-se humano. Aprender a falar uma língua, por exemplo, é uma exclusividade
humana que só se realiza com o contato com outros que falem”.
http://www.gestaoemsaude.com.br/humaniza-gestor/
Dentro desse contexto, procurando abranger a teoria cartesiana das paixões, é possível deduzir que deve-se pensar na produção de cuidados e práticas humanizadoras
levando-se em conta as especificidades que envolvem a utilização intensiva de
capacidades físicas e psíquicas, intelectual e emocional, incluindo troca de
afetos e de saberes. O que pressupõe necessariamente a socialização, a
cooperação e a conformação de grupos e redes, as exigências contemporâneas de
uma incessante e rápida incorporação de novos conhecimentos e tecnologias e do
desenvolvimento contínuo de habilidades comunicacionais e de manejo de
informações. Isso sem contar a convivência diária com toda forma de sofrimento
e a profunda e irremediável da vida e da morte e as inevitáveis repercussões no
corpo e na alma, frente aos afetos possíveis de serem desenvolvidos entre as
pessoas que convivem.
Pensar no ambiente no ambiente de trabalho um espaço vivo
e dinâmico, que pode, ao mesmo
tempo ser fonte de sofrimento, de depressão e estresse e de prazer, de
emancipação e realização, o que requer uma mudança de olhar. Nesse contexto, a análise da humanização, da ética e do
relacionamento interpessoal permite perceber facilmente os pontos de contato
entre esses temas e a necessidade imperiosa de ser respeitada ininterruptamente
a dignidade de todas as pessoas, incluindo-se os trabalhadores, dos quais
sempre é exigido alto grau de produtividade sem que, em contrapartida, se
dispense a eles um tratamento adequado.
Importante haver a interação de vários profissionais e a troca de
experiência entre seus saberes e fazeres, é fundamental a inter e a transdisciplinaridade:
a interação global das várias ciências, visando, acima de tudo, ver o homem de
uma forma mais global, mais inteira, de modo a alcançar um sistema de níveis e
objetivos múltiplos com uma finalidade comum. É válido ressaltar que para
uma real humanização em qualquer campo da atividade é necessário também
alguns atributos, como o agir técnico e ético em qualquer prática,
em qualquer campo e relação de trabalho.
Cabe lembrar também que uma das maiores necessidades
sociais na atualidade é a vivência irrestrita de valores voltados para o bem estar
da coletividade e que têm o ser humano como a maior e incalculável riqueza de
uma sociedade. As implicações daí decorrentes devem ser profundas na escala de
valores individuais, organizacionais e sociais, de sorte que a cidadania no
âmbito das organizações não seja vilipendiada, mas preservada, estimulada e promovida.
É, portanto, necessário
respeitar a singularidade de cada um – o valor de nossas diferenças, as quais,
de modo geram, enriquecem o conjunto e o torna mais fascinante, aumentando as
possibilidades de vivencias e privilegia a criação de vínculos afetivos na
reação profissional, na valorização e compreensão do outro como um sujeito,
entendendo que a valorização dos sentimentos deste outro é elemento essencial
do agir ético.
Tudo isso, seja no
campo da educação, da saúde, ou de quaisquer outros ramos de atuação
profissional, deve-se sempre programar as ações de acordo com cada realidade,
levando em conta as especificidades de cada momento, promovendo mudanças e
interações profissionais entre as áreas envolvidas, pensando no próximo como um
ser humano e não como uma máquina ou um corpo vazio de sentimentos, de emoções,
de afetos. É, portanto, necessário respeitar o momento do outro, sua
singularidade. A humanização pode e deve abranger e alcançar os mais diversos campos
de atividades humana, uma vez que estamos tratando de seres humanos e, é
importante ampliar o grau de comunicação em qualquer espaço de trabalho,
visando a boa convivência, a satisfação, a realização dos indivíduos frente os
desejos, afetos, sentimentos tão nossos, tão caracteristicamente humanos.
Beatriz da Rocha Silva,
Irene Cristina dos Santos Costa,
Rosiane Moreira Baptista