A Mecanização dos Corpos e a Influência dos Sentimentos na Humanização
Como se pode perceber ao utilizar o material da disciplina “Humanização: Corpo, Alma e Paixões”, do curso “Dimensões da Humanização: Filosofia, Psicanálise e Medicina”, a humanização perpassa por campos diversos das relações humanas, pois tem os aspectos relacionais seja com o outro, a sociedade ou consigo mesmo. Dessa forma, deparamo-nos com a necessidade de avaliar a questão da Mecanização dos Corpos e a Influência dos Sentimentos na Humanização, seja em quaisquer setores das relações humanas.
Tendo como
referencial os estudos da teoria cartesiana, é possível afirmar que ato de
humanizar o homem diante do mundo, segundo René Descartes, pressupõe que o
pensamento surge do infinito que ele chama de Deus e se manifesta no sujeito.
Esse sujeito não é homem que tem condição de pensar.
Na
concepção de Descartes "o corpo como uma máquina em justificativa do
fato de distinguir o corpo da alma e considerar esta última como de natureza
inteiramente independente do corpo". E este corpo que ocupa todo o espaço (completo), quando se intenta separá-lo de suas
paixões e afetos, seus produtos, entendidos com uma ameaça, por provocar certa
instabilidade em sua concretude, estaria ainda mais desumanizado quando se
faz esta separação. Contudo a objetivação cientifica, permitiu a ideia do corpo
objeto separado de sua alma, ligado a ela apenas por uma interseção: as
paixões.
Segundo a teoria de Descartes, se o corpo não está ligado a alma, pode ser manipulado como qualquer objeto, o que leva a uma certa desumanização do homem, tornando-o um corpo mecanizado/objeto. As paixões da alma (afetos), por assim dizer, é o que vem dar ao homem o teor de sua humanização, segundo o entender da professora Claudia Murta (UFES).
Segundo a teoria de Descartes, se o corpo não está ligado a alma, pode ser manipulado como qualquer objeto, o que leva a uma certa desumanização do homem, tornando-o um corpo mecanizado/objeto. As paixões da alma (afetos), por assim dizer, é o que vem dar ao homem o teor de sua humanização, segundo o entender da professora Claudia Murta (UFES).
Indubitavelmente,
na contemporaneidade, por vezes,
tentou-se colocar o homem no lugar de simples máquina (seja no campo político
ou da saúde), sendo ele visto como mais uma peça da engrenagem que tem que ser disciplinado
pronto para servir (seja nas guerras, seja no processo de industrialização, linhas
de montagem) ou na manipulação dos corpos na medicina.
O
mecanicismo trouxe como uma consequência direta um impressionante conjunto
metafórico à linguagem em relação ao homem (=máquina): o coração passou a ser a
bomba; o pulmão, o fole; o rim, o filtro e, finalmente, o cérebro, o computador.
Esse modo de pensar o homem como máquina a fim de manipulá-lo, seja através da
docilização dos corpos (obediência), ou ainda na medicina (corpo é igual a
milhares de outros corpos), na realidade, acabou por conseguir atender às
demandas do que é “ser sujeito”, o que nos leva à buscar nas teorias
filosóficas e psicanalíticas o conhecimento da natureza humana, de suas
necessidades e identidade como ser humano, uma vez que, desaparecendo a sua subjetividade e dando lugar à sua
mecanização; destruindo-se o que há de humano no homem, principalmente com o
fortalecimento do capitalismo, o homem se perde na ideia de mero objeto
integrante de uma grande engrenagem, se angustia e busca na humanização o
sentido de ser.
No entanto,
o conceito de humanização proposto pela Política Nacional de Humanização é
insuficiente para a promoção de mudanças sérias na concepção de saúde, por não
romper com os ditames do mecanicismo. Temos, então, humanização de práticas, do
ambiente de trabalho, a favor de um homem máquina, não ainda a valorização do
bem estar, da saúde, do humano como um todo. Não se leva em conta a
singularidade das vidas humanas, proposta na teoria cartesiana sobre as paixões
da alma, a importância dos afetos, e sim apenas o material, afinal é o que o
sistema capitalista impõe. Ao que se percebe que, na contemporaneidade a
questão da humanização gira em torno de um discurso generalista que visa
proporcionar um consolo, com paliativos humanitário-médico-religiosos; com
discursos ilusórios, piedosos, mascarando o poder econômico dominante.
Quando se fala
em humanização, seja em quaisquer ambientes de ação (de relação) humana (na
saúde, no ambiente de trabalho, na educação), deve-se lembrar que desde que o
homem é homem, ele também é humano e
a ausência de sua razão poderia transformá-lo em animal
irracional, no momento que o homem possui a linguagem, isso o diferencia
dos outros seres vivos. Porém, a visão que se tem de humanização ainda é
insuficiente porque não rompe com o mecanicismo humano existente. O que está
sendo proposto, na realidade, é apenas a humanização das práticas, no ambiente
de trabalho, dos serviços públicos, e não um foco no sentimento humano.
Percebe-se que a desumanização acontece com a
modernidade, se funda na crítica a ciência, que é a culpada de tornar o homem
como uma espécie de análise do mundo, esquecendo os verdadeiros
valores do ser humano, a saúde, seu bem estar, natureza. Conforme a
professora Claudia Murta, a todo momento, surgem teorias para solucionar os
problemas existentes a nossa volta, relacionados a humanização. Na visão da autora, "Antes de pensar em
humanizar atitudes, deve-se a pensar na no conceito humanização e no conceito
de ser humano", pois, "A necessidade de humanizar o ser humano indica
que o ser humano perdeu a sua humanidade".
Assim, qualquer
campo que lidar com a subjetividade - para se obter êxito - precisa ser
humanizado, individualizado, imbuído e envolvido de afetos, uma vez que somos seres
desejantes (corpo e alma anelados de paixões), tendo cada um a própria demanda,
o que exige um olhar diferenciado para cada sujeito com o qual lidamos, seja em
que âmbito for, seja nos hospitais, no ambiente escolar, nos diversos locais de
trabalho, humanizar perpassa, necessariamente, por esse espaço de afetos
característicos de todos os seres humanos.
Irene Cristina dos Santos Costa,
Rosiane Moreira Baptista.
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