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quinta-feira, 20 de agosto de 2015


 A Mecanização dos Corpos e a Influência dos Sentimentos na Humanização


Como se pode perceber ao utilizar o material da disciplina “Humanização: Corpo, Alma e Paixões”, do curso “Dimensões da Humanização: Filosofia, Psicanálise e Medicina”, a humanização perpassa por campos diversos das relações humanas, pois tem os aspectos relacionais seja com o outro, a sociedade ou consigo mesmo. Dessa forma, deparamo-nos com a necessidade de avaliar a questão da Mecanização dos Corpos e a Influência dos Sentimentos na Humanização, seja em quaisquer setores das relações humanas.
Tendo como referencial os estudos da teoria cartesiana, é possível afirmar que ato de humanizar o homem diante do mundo, segundo René Descartes, pressupõe que o pensamento surge do infinito que ele chama de Deus e se manifesta no sujeito. Esse sujeito não é homem que tem condição de pensar.
Na concepção de Descartes "o corpo como uma máquina em justificativa do fato de distinguir o corpo da alma e considerar esta última como de natureza inteiramente independente do corpo". E este corpo  que ocupa todo o espaço (completo), quando se intenta separá-lo de suas paixões e afetos, seus produtos, entendidos com uma ameaça, por provocar certa instabilidade em sua concretude,  estaria ainda mais desumanizado quando se faz esta separação. Contudo a objetivação cientifica, permitiu a ideia do corpo objeto separado de sua alma, ligado a ela apenas por uma interseção: as paixões. 
Segundo a teoria de Descartes, se o corpo não está ligado a alma, pode ser manipulado como qualquer objeto, o que leva a uma certa desumanização do homem, tornando-o um corpo mecanizado/objeto. As paixões da alma (afetos), por assim dizer, é o que vem dar ao homem o teor de sua humanização, segundo o entender da professora Claudia Murta (UFES).
Indubitavelmente, na contemporaneidade, por vezes, tentou-se colocar o homem no lugar de simples máquina (seja no campo político ou da saúde), sendo ele visto como mais uma peça da engrenagem que tem que ser disciplinado pronto para servir (seja nas guerras, seja no processo de industrialização, linhas de montagem) ou na manipulação dos corpos na medicina.
O mecanicismo trouxe como uma consequência direta um impressionante conjunto metafórico à linguagem em relação ao homem (=máquina): o coração passou a ser a bomba; o pulmão, o fole; o rim, o filtro e, finalmente, o cérebro, o computador. Esse modo de pensar o homem como máquina a fim de manipulá-lo, seja através da docilização dos corpos (obediência), ou ainda na medicina (corpo é igual a milhares de outros corpos), na realidade, acabou por conseguir atender às demandas do que é “ser sujeito”, o que nos leva à buscar nas teorias filosóficas e psicanalíticas o conhecimento da natureza humana, de suas necessidades e identidade como ser humano, uma vez que, desaparecendo a sua subjetividade e dando lugar à sua mecanização; destruindo-se o que há de humano no homem, principalmente com o fortalecimento do capitalismo, o homem se perde na ideia de mero objeto integrante de uma grande engrenagem, se angustia e busca na humanização o sentido de ser.
No entanto, o conceito de humanização proposto pela Política Nacional de Humanização é insuficiente para a promoção de mudanças sérias na concepção de saúde, por não romper com os ditames do mecanicismo. Temos, então, humanização de práticas, do ambiente de trabalho, a favor de um homem máquina, não ainda a valorização do bem estar, da saúde, do humano como um todo. Não se leva em conta a singularidade das vidas humanas, proposta na teoria cartesiana sobre as paixões da alma, a importância dos afetos, e sim apenas o material, afinal é o que o sistema capitalista impõe. Ao que se percebe que, na contemporaneidade a questão da humanização gira em torno de um discurso generalista que visa proporcionar um consolo, com paliativos humanitário-médico-religiosos; com discursos ilusórios, piedosos, mascarando o poder econômico dominante.
 Quando se fala em humanização, seja em quaisquer ambientes de ação (de relação) humana (na saúde, no ambiente de trabalho, na educação), deve-se lembrar que desde que o homem é homem,  ele também é humano e a ausência de sua razão poderia transformá-lo em animal irracional, no momento que o homem possui a linguagem, isso o diferencia dos outros seres vivos. Porém, a visão que se tem de humanização ainda é insuficiente porque não rompe com o mecanicismo humano existente. O que está sendo proposto, na realidade, é apenas a humanização das práticas, no ambiente de trabalho, dos serviços públicos, e não um foco no sentimento humano.
Percebe-se que a desumanização acontece com a modernidade, se funda na crítica a ciência, que é a culpada de tornar o homem como uma espécie de análise do mundo, esquecendo os verdadeiros valores do ser humano, a saúde, seu bem estar, natureza. Conforme a professora Claudia Murta, a todo momento, surgem teorias para solucionar os problemas existentes a nossa volta, relacionados a humanização.  Na visão da autora, "Antes de pensar em humanizar atitudes, deve-se a pensar na no conceito humanização e no conceito de ser humano", pois, "A necessidade de humanizar o ser humano indica que o ser humano perdeu a sua humanidade".
Assim, qualquer campo que lidar com a subjetividade - para se obter êxito - precisa ser humanizado, individualizado, imbuído e envolvido de afetos, uma vez que somos seres desejantes (corpo e alma anelados de paixões), tendo cada um a própria demanda, o que exige um olhar diferenciado para cada sujeito com o qual lidamos, seja em que âmbito for, seja nos hospitais, no ambiente escolar, nos diversos locais de trabalho, humanizar perpassa, necessariamente, por esse espaço de afetos característicos de todos os seres humanos.

                       Por: Beatriz da Rocha Silva,
                               Irene Cristina dos Santos Costa,
                               Rosiane Moreira Baptista.
                     





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